terça-feira, 29 de agosto de 2017

Escravatura moderna = "flexibilidade" = "desvalorização interna" = euro. Qual é a saída?


A luta contra a precariedade laboral só pode ser feita no quadro de uma luta mais geral contra a política económica que nos impõe a desvalorização dos sindicatos e da contratação colectiva - negociar na empresa é pôr frente a frente o forte e o fraco -, a política de esmagamento salarial em nome da competitividade-preço. Dentro do euro, dizem-nos, não há alternativa (TINA). E é que não há mesmo!

Se ficarmos sentados, à espera de melhores dias, a situação descrita no texto abaixo irá alimentar o desespero e o voto na direita xenófoba e violenta. É o que está a acontecer na Europa e nos EUA, tal como nos anos 30. Mudar isto exige muita indignação organizada e um grande esforço para a construção de uma alternativa política vitoriosa.
Com experiência do trabalho em comércio, fora de Portugal e, desde há cinco anos, de novo no país natal, Rafael diz que nunca sentiu “tanta pressão, humilhação, desvalorização, e uma escravatura mental, de tal maneira que, nos últimos dois anos, só no meu departamento, já perdemos à volta de 10 colegas, por variadíssimas razões: desde carga horária, reduções salariais, regime de turnos com escalas completamente loucas, que faz com que muitos casais não possam estar com os filhos ao fim de semana e os mais jovens estarem com a família”. Rafael garante que tal ambiente tem reflexos na saúde dos “colaboradores que andam esgotados, tanto física como mentalmente – depressões, esgotamentos, estão estampados no rosto de todos. Há um certo cheiro no ar chamado receio”. Do ponto de vista dos negócios, a “empresa não quer saber, porque sabe que vai buscar novos colaboradores aos cursos [financiados pelo IEFP] que dão internamente para pagarem o ordenado mínimo”. Por enquanto, vai aguentando...

17 comentários:

Geringonço disse...

Nós temos que ter em conta a automatização do trabalho.

Se nós não levarmos este aspecto absolutamente fulcral seriamente, os capitalistas vão, ainda mais, usar as tecnologias de forma a degradar as nossas vidas.

É bom lembrar que o ganho em produtividade das últimas décadas não se reflectiu nos rendimentos dos trabalhadores, em vez disso, serviu para concentrar ainda mais a riqueza.

Nós temos que (voltar a) olhar para as tecnologias como uma oportunidade para melhorar a condição humana em vez de a degradar.

Anónimo disse...

O poder desmedido

Anónimo disse...

Caro Jorge Bateira, está equivocado.

Como afirma Nuno Serra num post mais abaixo: "Ou seja, o «TIA» («There Is No Alternative») tirou o tapete ao TINA. Sim, confirma-se: há alternativas à austeridade e à «economia-do-pingo-que-nunca-pinga», por mais que as pessoas e os países empobreçam".

Pedro disse...

De facto isto está cada vez pior. Apesar de primeira vez em 40 anos, a geringonça dar uma certa esperança é muito duvidoso que venha a conseguir desfazer o trabalho de neoliberalização da sociedade executado pelos partidos do arco da governação em todas estas décadas.

Quer porque o PS não quer, quer porque estamos à mercê de crises internacionais, quer por pressões externas, quer até porque é só questão de tempo até o PSD voltar a ser governo.

Porque grande parte da população GOSTA de ser escravizada. Milhões de pessoas que foram seriamente prejudicadas e tratadas a pontapé pelo Passos suspiram pelo seu regresso. É a geringonça ter um azar qualquer e a claque laranjinha residente consiga convencer mais cabecinhas de alfinete e temos o PSD outra vez em todo o seu esplendor governativo.

Já aqui perguntei qual é a saída, mas foi recebido com um chorrilho de insultos por fanáticos da extrema esquerda para quem reconhecer que a direita controla o mundo parece que é uma traição e prova de que sou pago pela direita.... Por vontade deles faziam-me um "julgamento de moscovo" à estaline…

Para o pessoal mais inteligente fica mesmo a pergunta, o que fazer contra a vitória mundial da direita que se foi estabelecendo nos últimos 40 anos e que este artigo dá um exemplo das consequências ?

Geringonço disse...

Podíamos começar por comparar o paradigma neoliberal com o paradigma anterior ao mesmo.
O paradigma reformista New Deal, como é óbvio, teve os seus defeitos mas permitiu aumentar sem precedentes o padrão de vida a um número muito significativo da população.
O que é que neoliberalismo produziu? Dívida colossal impagável, diminuição do padrão de vida e concentração grotesca da riqueza.

Nós, enquanto sociedade, estamos em claro declínio e a viver de um passado que pouco já resta...

Há quem insista em leituras básicas e ache, por exemplo, que Trump foi eleito por defender ideais neoliberais, é preciso estar muito desatento para não constatar que Trump foi eleito por defender ideais anti-neoliberais, era tudo retórica da mais demagógica possível mas a intenção tanto à esquerda como à direita é de erradicar neoliberalismo.
Neoliberlismo estaria a ser desafiado seriamente se Bernie Sanders não tivesse sido sabotado pelos apparatchiks Clinton.

http://www.newsweek.com/bernie-sanders-rigged-hillary-clinton-dnc-lawsuit-donald-trump-president-609582

Se Bernie Sanders tivesse sido o eleito para ser o candidato a presidente teria, provavelmente, ganho ao labrego laranja defensor de neo-nazis! Mas a corrupção no partido democrata é tremenda.

Bernie Sanders é o político mais popular dos EUA, um auto-proclamado socialista (embora moderado) num país que foi durante décadas bombardeado por propaganda anti-socialista! Achar que isto não tem qualquer simbolismo é ingenuidade...

Se calhar há motivos para ter esperança, mesmo que alguns achem que o neoliberalismo é invencível...

Jose disse...

O que tem a precaridade a ver com as condições de trabalho?
Para essas havia e há leis que não foram alteradas.

Inferir que da precaridade resulta a aceitação de condições de trabalho ilegais é presumir que a fiscalização não actua como é seu dever.

Jaime Santos disse...

As guerras, Jorge Bateira, não são ganhas por quem tem razão, mas sim por quem tem força. E ter força implica ter estratégia. De nada lhe vale apelar à indignação, se nem o seu programa político conhecemos (com os detalhes e as continhas todas, se faz favor). Como dizia Helmut Schmidt, quem tem visões, que vá ao médico. É que sem estratégia, a retórica política nem isso verdadeiramente é. É apenas demagogia...

Anónimo disse...

TIA ou TINA, com Portugal dentro ou fora do Euro?
Debate entre Nuno Serra e Jorge Bateira. Assista e participe.

Pedro disse...

Caro jose.

O que tem a precariedade a ver com as condições de trabalho ?

Não percebe que a precariedade é ela mesma uma má condição de trabalho ?

E sim, é óbvio que a fiscalização não actua como é seu dever - graças a pessoas como você que fazem leis cheias de "buracos" e "janelas de oportunidade" para serem violadas, que não estipulam sanções eficazes para quem as viola, que não dão meios para a fiscalização actuar etc etc.

Isto é, o legislador é ele mesmo cúmplice na violação da lei. É a lei para inglês ver.

É a política dos partidos do arco da governação.

Anónimo disse...

Insultos ao Pedro?
Julgamento popular?

Pobre Pedro. Mandar estudar o Pedro foi um insulto para este ignorante?

E ainda por cima mente? Julgamento à Esta line? Já nao bastava a ignorância, agora é um Pinóquio con o nariz crescido?

Bora lá voltar a ler o ultimo post de Jorge Bateira. E soltar mais uma gargalhada sadia

Jose disse...

O que é a precaridade:
- trabalho temporário significa termo fixo, não é precário, é limitado.
- trabalho independente ou tarefeiro é precário, termina a todo o tempo.
- estágio é precário, tem tempo limitado e termina a todo o tempo.
- Trabalho sem prazo é precário pelo período experimental, termina a todo o tempo; a partir daí termina por justa causa (comportamental, inadaptação,....), extinção do posto de trabalho, despedimento colectivo, falência do empregador.

A que propósito é que se dramatiza a precaridade?
Porque o idiota Estado abrilesco diz que não despede funcionários e diz que nas suas empresas só faz acordos voluntários, belíssimas reformas antecipadas e indemnizações chorudas; não diz que põe todos os 'precários' do país a pagar a sua 'generosidade'.

Anónimo disse...

"Milhões de pessoas que foram seriamente prejudicadas e tratadas a pontapé pelo Passos suspiram pelo seu regresso"

Isto parece um slogan do tempo de Mota Pinto "hoje somos muitos, amanhã seremos milhões.

Anónimo disse...

Não se percebe também muito bem a contradição que aponta um anónimo entre Jorge Bateira e Nuno Serra.

Independentemente de diferenças de opinião, não se encontra a contradição insanável entre um texto e outro.
Nuno Serra defendeu a partir dum texto de Owen Jones ( que motivou engulhos de um tal Bruno lopes) que "há alternativas à austeridade e à «economia-do-pingo-que-nunca-pinga», por mais que as pessoas e os países empobreçam."

E Portugal é um bom exemplo

Jorge Bateira não contraria em nada o texto de Nuno Serra. Repito, em nada. Mas afirma aquilo que muitos de nós sentem: "Se ficarmos sentados, à espera de melhores dias, a situação descrita no texto abaixo irá alimentar o desespero e o voto na direita xenófoba e violenta"

Ou seja, é preciso avançar e lutar. Humilhantemente as teses neoliberais foram derrotadas, por mais que os cavacos regressem das tumbas fétidas. Mas todos sabemos que estão à espera. E que a relação de forças nas relações laborais pende, com o legado do processo austeritário em curso, para o lado do patronato. E muito pouco tem feito este governo para contrabalançar tal situação.
Ora quanto a este tema é ler o que Nuno Serra já escreveu e comprovar o que este diz.

Pelo que as ânsias dum anónimo em encontrar contradições e a marcar lugares para a arena são mais reveladoras da condição do dito anónimo do que outra coisa qualquer.
Comprovadas pelo disparate impresso de não eliminar o traço que rasura o Não do there is no alternative".

Anónimo disse...

Jose foi perito patronal ,designado como perito patronal pelos seus colegas de classe, na áreas das relações laborais.

Pago durante anos a fio, não pelos patrões, seus colegas de classe, mas pelos fundos sociais europeus. Ou seja por todos nós.

Perguntai a um destes patrões, cujo nível de escolaridade já foi objecto de estudo, o que acha da precariedade e vereis que a sua resposta se aproxima muito desta que Jose dá:

"A que propósito é que se dramatiza a precaridade?

Anónimo disse...

O mesmo jose aponta o que para ele, considera como precariedade. À revelia dos conceitos, serve o seu próprio menu.

Que um patronato reles e miserável converta os estágios em "trabalho temporário", leia-se trabalho gratuito para aumentar a sua mão-de-obra, é bem a medida de tais sacanas sem lei. Que um seu "perito" tente metê-los no conceito de "trabalho temporário" ´é bem a medida da desonestidade intrínseca de como se tenta escamotear estas questões.

Mas veja-se ainda como se manipulam as palavras, de como se jogam com estas, numa "tentativa" para esconder o odiento da situação. Veja-se como à pergunta do que é a precariedade se começa por dizer o que não é "precário". Significativo e significante. Foge-se do conceito laboral e sociológico do termo precariedade, para se esconder atrás dum português rasteiro e idiota.

Anónimo disse...

"Precariedade laboral corresponde a uma situação laboral marcada pela precariedade, que se opõe ao contrato de trabalho tradicional que assegurava ao trabalhador um trabalho a tempo inteiro, com duração indeterminada e com protecção social (reforma, subsídio de desemprego, férias, etc.).

Apesar da dificuldade em encontrar uma definição comum e rigorosa de “trabalho precário” podemos associá -lo a quatro características: i) Insegurança no emprego; ii) Perda de regalias sociais; iii) Salários baixos; iv) Descontinuidade nos tempos de trabalho.

Associamos, assim, o trabalho precário à instabilidade (impossibilidade de programar o futuro – situação dos jovens que ficam até mais tarde em casa dos pais); à incapacidade económica (impossibilidade de fazer face aos “riscos sociais” e de assegurar as despesas económicas do quotidiano – o surgimento dos “novos pobres”); e à alteração dos ritmos de vida (alteração nos horários de trabalho e da relação entre trabalho/desemprego)."

Teresa Sá.

Que Jose, um perito patronal, queira escamotear isto percebe-se. Afinal o sonho húmido (e seco) destas coisas é manter e incrementar precisamente a precariedade. Porque a precariedade é função directa do aumento da sua taxa de lucro. Estão-se nas tintas para a dignidade da pessoa humana e para o respeito pelos trabalhadores.

Mais uma vez é tão significativo que este Jose se precipite desta forma pavloviana quando ouve alguém criticar a precariedade ...

Anónimo disse...

Uma última nota:

A Jose não lhe basta sair em defesa da precariedade. É necessário fazer mais. E mostra-o no seu último parágrafo.

Onde está patente o ódio a Abril de 74, neste caso concreto o ódio à modificação ocorrida das relações laborais. Mas sobretudo o ódio mais geral pelas conquistas sociais no seu todo

E onde está patente o seu amor pelos despedimentos ( pelos quais pede mais) numa mostra ténue da alegria que este tipo tem quando o desemprego aumenta, sinal indisfarçável do desejo duma mão de obra mais barata e mais maleável tão ao gosto do patrão.

E onde está patente o seu desejo pelo fim do Estado Social, transparente na forma como pede e exige despedimentos no estado. Também para benefício directo dos interesses privados. (E para depois Passos Coelho vir fazer as suas tristes figuras e dizer que a culpa pelo sucedido nos incêndios é do Estado, escondendo a sua verdadeira responsabilidade pelo sucedido?)

Quanto às reformas antecipadas...falará na reforma da ex-presidente da Assembleia da República, do partido do seu ídolo Passos Coelho? À reforma dos boys que servem os seus amados donos disto tudo?

Quanto às indemnizações chorudas...falará nas que foram concedidas pelo bloco central de interesses e ampliadas pelo governo do seu Passos Coelho? Dos administradores nomeados pelo governo numa dança infernal entre os interesses privados e os públicos? Dos negócios e negociatas em que se envolveram os seus banqueiros? De António Borges e de Durão Barroso a quem defendeu as mordomias, os processos e os proventos como cão defende o pedaço de carne que abocanha na boca?

Por último, repare-se como tenta dividir as pessoas e atirar a responsabilidade da situação para quem odeia: para Abril, para o Estado Social.

De facto, um verdadeiro "perito" patronal, em funções à sua classe.